GALERIA DOS NOSSOS ESCRITORES, CIENTISTAS E POETAS
PROPOSTAS DE LEITURA

LEV TOLSTOI
A MORTE DE IVAN ILITCH
Em tempo de quarentena devido à pandemia CODIV-19, estou em casa, de pijama e pantufas, sentado à secretária a escrever este texto, enquanto, quase em surdina, as notícias passam na TV numa cadência ritmada de informação trágica e conselhos úteis para toda a população. Ficar em casa é a solução para todos os portugueses. É tempo de pandemia mundial. O medo impera. O vazio existe.
O barulho dos carros a circular nas ruas não existe. Nas varandas dos prédios em frente alguns moradores estão sentados a ler. Na rua não vejo pessoas a circular. No céu não passam os aviões do costume. O mesmo constacto com os comboios. Nada mexe. Tudo parece absurdo e medonho.
Pensei. O que fazer para ocupar o meu tempo? Entre a miríade de coisas que me passou pela cabeça, houve uma que agarrou a minha atenção, pelo interesse na revisitação do tema. Fui à estante e retirei um pequeno livro que guardo como um tesouro – A Morte de Ivan Ilitch de Lev Tolstoi.
Este pequeno livro de 90 páginas é uma preciosidade literária. Vou ler novamente cada linha, como se fosse a primeira vez, endeusando o autor pela beleza da descrição narrativa de uma história única e absolutamente fantástica.
Podemos ler no Prefácio escrito por António Lobo Antunes – “ Este livro tão breve, uma das maiores obras-primas do espírito humano, tem sido, desde a sua publicação, um motivo de controvérsia para a crítica : trata-se de uma obra sobre a morte ou de uma obra que nega a morte ? “
Parto para a sua leitura, uma vez mais com a tranquilidade de quem a saboreia com o prazer de nela viajar, ouvindo ao longe os cantares do povo russo, o colorido polifónico do seu folclore, a imagem da Catedral do Sangue Derramado de São Petersburgo, as planícies geladas de um filme que faz parte da minha memória de infância – Doutor Jivago.
Não descortino a controvérsia mencionada pelo autor do prefácio. Prefiro, cada vez que finalizo a leitura desta obra-prima, ficar na doce dúvida da negação da morte.
Lev Tolstoi reiterava uma “verdade simples e ancestral”: “ É natural aos homens ajudarem-se e amarem-se uns aos outros, mas não torturarem-se e matarem-se.” E dizia mais, “ O amor é a única forma de salvar a Humanidade de todos os seus males, e nele também se encontra o único método de salvar o seu povo da escravatura.”
Deixo aqui um desafio a todos aqueles que o queiram aceitar. Leiam este pequeno livro e no final tentem uma opinião pessoal sobre a controvérsia da crítica: trata-se de uma obre sobre a morte ou de uma obra que nega a morte?
Boa leitura.
GALERIA DE PENSADORES INSPIRADORES – DESAFIANTES
HANS KÜNG
Famoso teólogo católico do diálogo inter-religioso, sintetizou as suas convicções a este respeito de forma quase axiomática: “Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões; não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões; não haverá diálogo entre as religiões sem um estudo aprofundado dos respectivos princípios teológicos fundamentais. Por outro lado, o nosso planeta não poderá sobreviver sem padrões éticos globais, sem referências éticas reconhecidas no mundo inteiro”.
FRANZ KAFKA
Hoje – 3 de Junho de 2021 – celebra-se o nascimento de Franz Kafka, nascido no ano de 1883 em Praga, Chénia, vindo a falecer a 3 de Junho de 1924 na Áustria. Foi um escritor boêmio de língua alemã, autor de romances e contos, considerado pelos críticos, como um dos escritores mais influentes do século XX.
Das suas obras mais conhecidas e reconhecidas estão: A Metamorfose, O Veredicto e Before the Law.
LUÍS PAULINO PEREIRA
A leitura desta obra constitui uma experiência diferente da leitura individual de cada crónica, em diferentes momentos. Ler os diversos textos como uma unidade permite ter também uma imagem global e unitária do seu autor, o Dr. Luís Paulino Pereira, médico por vocação e por convicção, que defende a vida como ideal supremo, com uma profunda fé cristã, que cria uma relação de proximidade e humanismo com os seus pacientes, que se preocupa com a defesa de melhores condições de vida, que valoriza o pacto intergeracional, que se debruça sobre a dedicação dos médicos e o espaço para os mais novos na profissão; e que destaca a importância da cultura que, como bem sabemos, constitui a identidade de qualquer país.»
Manuela Ramalho Eanes «Nesta coletânea de artigos do Dr. Luís Paulino Pereira, o leitor tem uma biblioteca inteira, com belos trechos de vida partilhada. Ganhará muito em lê-los devagar, para crescer em humanidade, em verdade.» D. Manuel Clemente.
JOHN LE CARRÉ
Pseudónimo de David John Moore Cornwell foi um escritor britânico notabilizado pelos seus romances sobre espionagem.
Morreu em dezembro de 2020 com 89 anos, deixando atrás de si uma bibliografia de referência e um nome incontornável nos romances de espionagem, municiados da sua típica elegância e mestria narrativa.
SILVERVIEW – o livro póstumo de John le Carré. É um livro que provavelmente ficou por acabar e aperfeiçoar pelo mestre dos romances de espionagem do século XX. Uma vez mais um livro apaixonante pela narrativa.
Elvira Fortunato
Em março de 2021, duas semanas depois de ter vencido o Prémio Pessoa 2020, a engenheira Elvira Fortunato foi distinguida com o WFEO GREE Award Women 2020, o maior prémio internacional de Engenharia que premeia o trabalho desenvolvido por mulheres engenheiras em todos os países.
A 8 de junho de 2010, a vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa já havia sido agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Dorothy Hodgkin
A química inglesa é conhecida por ter descoberto a cristalografia de raios-x, mas descobriu a estrutura da insulina, a da penicilina – que Ernst Boris Chain e Edward Abraham haviam estudado antes – e a da vitamina B12. Deste modo, tornou-se a terceira mulher a ganhar o Prémio Nobel da Química, em 1964.
Maria Mota
Investigadora especialista em malária do Instituto de Medicina Molecular – IMM (do qual é atualmente diretora), em Lisboa, licenciou-se em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Terminou a tese de doutoramento na University College de Londres, em 1998, e fez o pós-doutoramento na New York University Medical Center, em 2001, onde também exerceu funções enquanto docente.
Aos 50 anos, estuda a malária no Instituto Gulbenkian de Ciência. Em dezembro de 2013, aos 42 anos, tornou-se a pessoa mais nova de sempre a receber o Prémio Pessoa.
Rosalind Franklin
A experiência realizada por Rosalind Franklin resultou na descoberta da estrutura do ADN e no Prémio Nobel da Química de 1962. A segunda de cinco filhos de uma família judia nasceu em julho de 1920 em Notting Hill, Londres, e sempre soube que queria ser cientista.
Sofrendo de cancro do ovário, morreu aos apenas 37 anos, tendo conseguido antes obter financiamento para manter a sua equipa por mais três anos através do estudo da poliomielite.
Rita Levi-Montalcini
Ganhou o Prémio Nobel da Medicina, em 1986, por ter descoberto uma substância do corpo que estimula e influencia o crescimento de células nervosas. Assim, contribuiu para que se soubesse mais sobre as doenças de Alzheimer e Huntington.
GALERIA DE MULHERES CÉLEBRES
Marie Curie
Nascida na Polónia oitocentista, Maria Salomea Skłodowska era a mais nova de cinco irmãos, tendo crescido no seio de uma família que perdera propriedades e passara a esforçar-se por saldar as dívidas e viver com o mínimo conforto.
Ganhou o Prémio Nobel de Química de 1911. Oito anos antes havia sido galardoada com o Prémio Nobel da Física.
Chien-Shiung Wu
Tendo recebido alcunhas como “Primeira Dama da Física”, “Madame Curie da China” ou “Rainha da Investigação Nuclear”, estudou numa escola feminina fundada pelo pai, na China. Em 1929, foi admitida na Universidade Central Nacional, em Nanjing, e estudou Matemática.
Trabalhou no Projeto Manhattan, ajudando a criar o processo de separação do urânio em urânio-235 e urânio-238 por difusão gasosa, mas também levou a cabo a chamada “Experiência de Wu” que contradizia o hipotético princípio de conservação de paridade, conseguindo definir operacionalmente as direções esquerda e direita sem referência ao corpo humano. Morreu em Nova Iorque, em 1997, aos 84 anos.
Vera Rubin
Pioneira no estudo das curvas de rotação de galáxias espirais, passou pelo Vassar College e pelas Universidade Cornell e Universidade de Georgetown, nos EUA, não tendo recebido qualquer resposta por parte de Princeton por esta instituição não receber estudantes do género feminino em determinados programas.
Ficou também conhecida por ter percebido que as galáxias devem conter uma quantidade significativa de matéria escura.
Barbara McClintock
Nascida no estado norte-americano do Connecticut no ano de 1902, foi laureada com o Prémio Nobel da Medicina de 1983 por ter descoberto elementos genéticos móveis em plantas. Tal se deveu ao facto de, na década de 40, Barbara ter realizado experiências com variantes de milho e descoberto que “a informação genética não era imóvel” e que os genes podem “ligar” e “desligar” a manifestação física de certos fenótipos.
Morreu aos 90 anos de causas naturais.
Katherine Johnson
Trabalhou como professora e foi dona de casa até ser recrutada como matemática pela NASA – Comité Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica.
Calculou a trajetória das primeiras missões espaciais da NASA e mapeou a superfície da Lua antes da aterragem da Apollo 13, em 1969. A mulher negra que não cruzou os braços perante a segregação racial e o machismo perdeu a vida a 24 de fevereiro de 2020, com 101 anos.
A NOSSA GALERIA DE PESSOAS COMUNS

ISABEL MADALENO
POEMA DEDICADO À ILHA REUNION
(Ilha no Oceano Índico, onde passei 15 dias de férias neste verão de 2019)
Cantam os pássaros
na brisa da tarde
as plantas tropicais
sobem ao céu
parecendo dizer adeus à Terra
suas raízes exóticas
soltam-se do chão
e abraçam sua mãe árvore
num abraço eterno
as crianças trepam
raiz a raiz
ramo a ramo
ninho a ninho
colhem o fruto sagrado
benção da natureza
saciados….brincam
desafiam a natureza
e cantam com os pássaros
a liberdade
olham à volta…
tudo floresce
tudo brilha, tudo canta
tudo é vida, tudo é puro
tudo e verdade
nada é nosso
nada.
Felizes os meninos descem à terra
os homens passam
levam no rosto gratidão
e nas mãos a dávida da natureza
serão capazes de regressar a casa
sem nada perturbar?
Tudo é de todos
nada é nosso
que cantem os pássaros
que cresçam as árvores
que se alimentem os peixes
que viva o homem
serenamente
na nossa casa grande
para sempre.
TOCAS OS TAMBORES
Tocam tambores
no fundo da Terra
no fundo de nós
Estremecemos
soam alarmes em
todo o Mundo
veem de longe e de perto
já cansados, zangados
quem os escuta?
Tocam tambores
estremecemos…
ainda não compreendemos
há ordem para
ficar em casa
ficar em casa…ficar em casa!
Olhamos as ruas caladas, nuas
lá fora e cá dentro
o silêncio dói o silêncio
grita pelos corredores mais
profundos de nós
e o silêncio nos faz pensar
a Terra protesta
a natureza protesta
bocas de fome protestam
em todos os continentes
e nós, que lugar temos no mundo?.
para lá das nossas janelas
que ficou de nós?
CALAM-SE OS TAMBORES
Estamos distantes mas próximos
isolados mas unidos…
depois da noite escura
nasce uma nova aurora…
aproxima-se
um anjo luz que nos vem guiar e
transformar
Surpreendidos
vemos as nossas pequenas mãos a abrir
ávidas de tocar, de aprender
de crescer, de amar
de construir…
lentamente abrimos os nossos olhos
e no espanto da nossa pequenez
podemos ouvir pela primeira vez
a nossa frágil voz
apaziguar os nossos corações
de tanta a dor, de tanto o medo
……………………………
Estamos agora na viagem
depois da viagem
a alegria anda no ar
entra pelas janelas, salta muros
inunda o mundo
as crianças já brincam nas ruas
nasce um jardim em cada um de nós
curaram-se os doentes
chorámos os mortos…
abraçámos quem não conhecíamos
a poesia aconteceu
no nosso olhar
nas nossas relações
nas nossas escolhas
Diferentes mas mais iguais
viajaremos
ao colo levaremos a criança
nascida em nós com tanta dor
ela nos ensinará a viver com
AMOR

JOSÉ de FIGUEIREDO COSTA
( Poema de tertúlia do nosso tempo )
Questiúncula
Um BES com água tónica
ou um BPN sem gelo?
Tarte de Face Oculta
ou um Freeport sem Free?
EDP com talher ou pauzinhos?
Corrupção é salgada ou salgado?
Será Sócrates um grande filósofo
Ou PS abreviatura de Post Scriptum?
Pinho é madeira que empena
mesmo podre continua pinho
com pinhas de milhões em pilha
e pinhões de muitos pinhos.
Eufémia também foi Catarina.
Costa também foi Santos.
Jerónimo foi um famoso índio.
Apolónia é apenas uma estação.
Os galos também têm crista.
O ferro enferruja a língua de aço.
Centeno faz cem de sem.
Manta de Passos, rota é.
Uma porta é feminina, Portas não.
Mortágua é pertinho de Santa Comba
onde o rio ainda corre nas margens.
Marques mentes? Não! sei tudo.
Tancos é tiro de fuga em fisga fisgada.
Caixa é pandora que esconde os fantasmas
alinhados e muito bem alinhavados.
Salgados são doces de natas com notas
onde tudo se comporta como a compota
que tempera o pão de muitas bocas e cachaços
na gamela pública dos citrinos ácidos.
( EM TEMPO DE COVID-19 )
A poesia do Papel Higiénico
__________
Quando um homem tem as calças na mão
depois da escrita de uma sinfonia polifónica sonora
deve adoptar uma postura de elevada cidadania
utilizando sem alarido o papel higiénico.
Nunca entrar em pânico nem gritar por socorro
pela chegada de qualquer vírus, mesmo que manhoso,
que suba pela sanita.
É nestas situações, com o apoio do Estado de Emergência,
que o papel higiénico assume o seu papel mais relevante
quer pela folha dupla que oferece
quer pela utilização do seu canudo para dialogar com a família
evitando assim o contágio.
Imaginar uma casa de família sem papel higiénico
é o mesmo que ver um banco de jardim todo cagado pelos pombos.
Claro que este COVID é um artista que nos está a desancar o canastro
confinando-nos a quatro paredes num comportamento quase mórbido.
Mas…vamos pensar positivamente.
Já pensaram se não houvesse papel higiénico na nossa casa ?
E guardanapos ?
E rolos de cozinha ?
E lenços de papel ?
Nada !
Recordo-me da minha infância
onde a folha de couve era uma delícia fresca
ou mesmo uma pedra sem arestas.
Que bom é viver no campo….
Viva o nosso inseparável amigo
PAPEL HIGIÉNICO !

MANUEL COELHO NUNES
88 anos
Bairro da Petrogal – Bobadela
O RELÓGIO MARCA O TEMPO
O relógio marca o tempo
Marca o meu tempo a chegar
Marcará também o tempo
Quando esse tempo acabar
O relógio marca o tempo
De uma vida por nascer
Marcará aquele momento
De um ser ao novo ser
O relógio marca o tempo
Do sofrimento de alguém
Marcará também o tempo
Do sorriso de uma mãe
O relógio marca o tempo
De um carinho ou desdém
Marcará todo o afecto
E a simpatia de alguém
O relógio no tempo parou
Deixou de o tempo marcar
Tempo do tempo acabou
Deixando a vida acabar.
CICLO DA VIDA
Semente é vida lançada
Como um amor divinal
É semente germinada
Traduzida no Natal
Sendo os filhos o que são
A seus pais devem a vida
Os avós são o que são
De mocidade vivida
Ser idoso é ser herói
Catedrático de uma vida
Fica a lembrança que dói
Na mocidade perdida
Anos de luta vencida
Quantas vezes servidão
É uma vida vivida
Com muita abnegação
Mas pelo que a vida é
Nas veias a seiva corre
As árvores morrem de pé
Mas a esperança não morre.

JORGE ALVES
Quero este Natal!
I
Quero um natal que não tenha mês nem ano
Que o dia em Solidariedade, seja maior que a idade do mundo
Que os homens acordem para a realidade
Que não fiquem agarrados às riquezas do mundo
II
Que a rua não seja lugar para dormir
Que as bombas deixem de fazer das casas grutas
Que todos trabalhem para ter o seu PÃO
Que haja paz no Mundo e acabe com a exclusão
III
̶ Este Natal já nos foi PROMETIDO
Este Natal só começou a ser construído
Este Natal há milénios que continua a ser Adiado
Este Natal não é consagrado
Este Natal por todos nós tem de ser melhorado
Este Natal! Quando será CONCLUÍDO?
PRECE
I
A minha prece não está a ser ouvida…
Peço-te ó natureza nossa mãe…
Eu sei que estás muito ofendida…
Mas as mais sofridas também são mães…
II
A minha prece não é para mim…
Mas para as mães e pais que vejo a sofrer…
Se não são mães ou pais são teus filhos…
Todos são Filhos, peço-te para os proteger…
III
A minha prece não está a ser ouvida…
Já sinto o cansaço dos dias sem vida…
Quando será que a minha prece é atendida?
Para que os filhos voltem para os pais…
Para que os pais voltem para os filhos…
Quando isso acontecer a minha prece foi ouvida…
NOVO DIA
Mas que dia!
Lisboa que já vivia em alvoroço
Mas neste dia bem cedo foi acordada
Pela música e pelos foguetes
De uma Nova e desejada alvorada.
Mas que dia!
Lisboa estava engalada com colchas, bandeiras
E muitas flores e cravos nas janelas
Até parecia que a procissão da Nossa
Senhora da Saúde saía neste dia.
Mas que dia!
Lisboa que até o tempo ajudou ficou de mil cores
Cedo chegaram as carroças com cravos, rosas e flores
Homens e mulheres de cravo no peito
E ninguém ficou indiferente ao ver aquele mar de gente.
Mas que dia!
Homens e mulheres de mãos dadas sem se conhecerem
Mas todos sorriam e apartavam-se mãos muito calejadas
Algumas suadas e outras cheirosas!
De tanto mexer nos cravos e nas rosas.
Mas que dia!
Muitas lágrimas que não eram de sofrimento
Mas sim de contentamento!
Com o cântico frenético saído das gargantas já sem voz
Mas ninguém desistia!
Mas que dia!
Os dedos das mãos entrelaçados
Mas ninguém se conhecia!
Como jovens namorados e apaixonados
Que pela noite fora, dormem enlaçados.
Mas que dia!
Graça, Alfama e a Mouraria
Nem queria acreditar no que via!
A multidão muda de direcção e foi para o Areeiro!
E depois para Alvalade, para o Estádio 1º de Maio.
Mas que dia!
Tanta alegria para ser vivida num só dia!
Até Lisboa deixou de ter noite, só teve dia!
Para em Portugal!
Renascer um NOVO DIA.
Mas que dia!
”Canta canta amigo canta/Vem cantar a nossa canção
Tu sozinho não és nada/Juntos temos o mundo na mão”